terça-feira, 26 de junho de 2012

Um Minuto

                                                                                    
“Silêncio belo que se instala
entre uma e outra vinda da incessante vida
que cobra sempre presença e convívio.
Quanta paz eu encontro
em não fazer nenhum sentido e
quem sabe
não ter nem identidade neste mundo.”
                              (Thiago Nelsis)



Gosto da calma dos campos em dias amenos,

do vento suave nos eucaliptos e nos ciprestes que cantam
sem obrigar ninguém a ouvi-los.
Gosto do passeio das formigas, que nem se ocupam em perceber minha presença, dos gravetos no pasto claro, da vaca, da ovelha,
do ninho do quero-quero quando o quero-quero está calmo,
da água fresca, do céu distante, distante... com uma nuvenzinha silenciosa e distraída.
Gosto de tudo que está lá e simplesmente está lá, nada mais,  permitindo assim o estar alheio sem indagações ou leis ou "formas corretas de se estar"
E gosto da cidade assim como está agora, como nela estou agora.
Enquanto os humanos em suas prisões sustentam a civilização,
ando pelas ruas onde os sons estão, mas não ferem o silêncio. Pelas ruas banhadas de uma luz suave, de um calor macio, por um sol tranquilo.
 Ando em passos despreocupados, sem os gritos dos apelos humanos (e dos meus próprios apelos).
É bom andar pelas ruas, onde meus pensamentos não mofam, não se emboloram em tramas neuróticas e viciadas,
onde a selvageria histérica conversiva e dissociativa do mundo sociabilizado (e confesso, muitas vezes minha) não invade a minha mente,
onde não me perturbo com minha própria loucura de achar que sei algo sobre mim ou os outros.
Ando no ritmo leve de minha solidão,
tentando estar desacompanhada até mesmo de mim mesma,
ando com passos despreocupados que parecem  um distraído embalar de rede
no sem fim de uma noite de sossego e descanso.
E me leva, meu andar, me leva...
Um minuto na leveza de assim
andar e assim me sinto: a andar mais leve.

Estela de Menezes

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