Maria e as Estrelas
Maria queria tanto as estrelas do céu,
Queria tanto que atravessou o deserto,
escalou montanhas, se afogou no mar,
explodiu cidades.
Queria tanto tocá-las sem precisar esconder
seu fascínio,
contempla-las em silêncio e êxtase, com calma,
queria respira-las...
Maria queria tanto as estrelas do céu,
Queria tanto que atravessou o deserto,
escalou montanhas, se afogou no mar,
explodiu cidades.
Queria tanto tocá-las sem precisar esconder
seu fascínio,
contempla-las em silêncio e êxtase, com calma,
queria respira-las...
dissipar-se no ar, fundir-se nelas.
Queria tanto que quando as teve diante de si
fechou os olhos,
perdeu a força nas mãos, nas pernas...
Adormeceu sem nem acreditar
que não era só delírio de desejo,
mas reciprocidade de energia e vida.
Queria tanto!...
e quando acordou viu o sol,
o dia claro e a realidade de concreto e rotinas.
A realidade vazia e a luz do dia
deixando claro que Maria
não tinha aprendido a merecer e agarrar estrelas.
Agora ela só via um sol infindo a escurecer sua alma.
Mas a noite ainda há de voltar, Maria. Há de voltar, algum dia.
Estela de Menezes
Suicida
Queria tanto que quando as teve diante de si
fechou os olhos,
perdeu a força nas mãos, nas pernas...
Adormeceu sem nem acreditar
que não era só delírio de desejo,
mas reciprocidade de energia e vida.
Queria tanto!...
e quando acordou viu o sol,
o dia claro e a realidade de concreto e rotinas.
A realidade vazia e a luz do dia
deixando claro que Maria
não tinha aprendido a merecer e agarrar estrelas.
Agora ela só via um sol infindo a escurecer sua alma.
Mas a noite ainda há de voltar, Maria. Há de voltar, algum dia.
Estela de Menezes
Suicida
“Queria ao menos ser amiga dele, a melhor amiga dele, alguém que ele soubesse que sempre pode contar, que vai sempre estar ao lado dele.”
J. Pouey
“ O nome dela estava no sub do msn dele, entre dois coraçõezinhos...”
J.P.
“Não é uma questão de não gostar mais da vida e querer morrer, é bem diferente! A morte é como uma dança. É uma música que vem no ar, sedutora, que te envolve e te tira pra dançar e te envolve mais ainda, e te leva, e tudo que tu quer é te deixar levar... Pra esse mundo que te exige sempre um motivo pra tudo, acha-se um motivo para dar de desculpa ao mundo, na verdade, para se deixar levar...”
S.R.
Naquela manhã a chuva tinha parado após três dias e noites quase sem tréguas. Há muito que ela só dormia, de quando em quando acordava, ouvia a chuva, dormia. Não via por que acordar, seu corpo inteiro doía, não suportava mais sonhar.
Naquela manhã veio o sol, tudo ainda estava úmido e ela saiu a andar. A calça preta, os tênis mal cuidados, camiseta, pele sem nenhuma cor, os lábios secos e sem vida, olheiras... Mas ela sorria quando sentia o ar tocar em seu corpo, entrar pelos seus pulmões. Quem poderia saber o quanto seu peito doía, e que cansaço e apatia arrastava pelas ruas?
Sentou-se à beira do rio sobre uma pedra, olhava distante, parecia observar as águas de Libres, as árvores talvez. Podiam-se ver agora lágrimas umedecendo seus olhos, sem escorrer. Olhar fixo e distante – ficou ali sentada por horas, depois se virou, olhou a ponte, caminhou pela beira do rio. Como seu corpo doía! E o peito parecia ser afundado por um punho de ferro.
Voltou para o centro, andou pelas ruas, sentou-se no café de sempre à mesma mesa, e como tantas vezes o pensamento, assim como o existir, desafinado e desarmônico, o desejo nada saudável de um passeio pelas redes sociais, a foto dele no perfil... Tão lindo! Um sonho!
Queria tanto ouvir sua voz. Queria tanto um oi, como estás?
Queria ser sua amiga, sua melhor amiga... queria chorar.
Sorrindo pagou o café e se despediu do rapaz que sempre a atende tão gentilmente, sem jamais esquecer seu nome, nem de perguntar: tudo bem?
Caminhou mais e mais, observou cenas que dariam boas fotos, mas hoje nem isso queria fazer. Andando pensava na menina linda para quem ele deixara lindas mensagens. Tão linda, tão linda!
Voltou para o rio, tinha câimbras, não queria voltar pra casa, não queria dormir... queria acordar. Como será se afogar? – pensou.
Virou-se, voltou-se para a rua e aos poucos foi se afastando do rio, já nem sentia mais o corpo, só o cansaço, o cansaço do querer, do sonhar...
Deve haver um veneno que nos faça dormir com leveza, parar de pensar... tantas vezes havia pensado nisso: um copo de vinho que embriague para sempre, sem jamais causar mal-estar.
Tantas vezes enxergou um revólver contra sua cabeça, bem em sua têmpora esquerda. Mas não... isso não.
Agora parecia a felicidade a andar pelas ruas, seus olhos brilhavam, seu sorriso se abriu e ela subiu os ombros e apertou os braços ao redor do corpo como quem sente um abraço de quem está, mas não se deixa ver. Imaginou-se andando ao lado dele a conversar, estavam tranquilos, estavam contentes...
Uma luz tão forte, o soco de uma mão gigante, um gosto de sangue... o escuro, o corpo queimando no asfalto... o carro parou.
Ela o tinha diante de si: o cordão no pescoço, os lábios como em uma tela, os olhos que guardam segredos que nem nesse momento se deixavam revelar... Ela finalmente deixou correr as lágrimas dos olhos, seus lábios sorriam... e adormeceu no asfalto banhado de sangue.
Logo a multidão invadiu o local, ouviam-se sirenes e vozes.
E ele naquele dia, nem sequer passou naquela rua. Naquele dia nem sequer pensou nela. Mas sua ausência, coisa que ela sempre teve certeza que assim como sua presença nem seria notada nesse mundo, todos que a conheciam, inclusive ele. Atribuem a um acidente de trânsito, estúpido e cotidiano.
Estela de Menezes. Outubro de 2011.
Naquela manhã veio o sol, tudo ainda estava úmido e ela saiu a andar. A calça preta, os tênis mal cuidados, camiseta, pele sem nenhuma cor, os lábios secos e sem vida, olheiras... Mas ela sorria quando sentia o ar tocar em seu corpo, entrar pelos seus pulmões. Quem poderia saber o quanto seu peito doía, e que cansaço e apatia arrastava pelas ruas?
Sentou-se à beira do rio sobre uma pedra, olhava distante, parecia observar as águas de Libres, as árvores talvez. Podiam-se ver agora lágrimas umedecendo seus olhos, sem escorrer. Olhar fixo e distante – ficou ali sentada por horas, depois se virou, olhou a ponte, caminhou pela beira do rio. Como seu corpo doía! E o peito parecia ser afundado por um punho de ferro.
Voltou para o centro, andou pelas ruas, sentou-se no café de sempre à mesma mesa, e como tantas vezes o pensamento, assim como o existir, desafinado e desarmônico, o desejo nada saudável de um passeio pelas redes sociais, a foto dele no perfil... Tão lindo! Um sonho!
Queria tanto ouvir sua voz. Queria tanto um oi, como estás?
Queria ser sua amiga, sua melhor amiga... queria chorar.
Sorrindo pagou o café e se despediu do rapaz que sempre a atende tão gentilmente, sem jamais esquecer seu nome, nem de perguntar: tudo bem?
Caminhou mais e mais, observou cenas que dariam boas fotos, mas hoje nem isso queria fazer. Andando pensava na menina linda para quem ele deixara lindas mensagens. Tão linda, tão linda!
Voltou para o rio, tinha câimbras, não queria voltar pra casa, não queria dormir... queria acordar. Como será se afogar? – pensou.
Virou-se, voltou-se para a rua e aos poucos foi se afastando do rio, já nem sentia mais o corpo, só o cansaço, o cansaço do querer, do sonhar...
Deve haver um veneno que nos faça dormir com leveza, parar de pensar... tantas vezes havia pensado nisso: um copo de vinho que embriague para sempre, sem jamais causar mal-estar.
Tantas vezes enxergou um revólver contra sua cabeça, bem em sua têmpora esquerda. Mas não... isso não.
Agora parecia a felicidade a andar pelas ruas, seus olhos brilhavam, seu sorriso se abriu e ela subiu os ombros e apertou os braços ao redor do corpo como quem sente um abraço de quem está, mas não se deixa ver. Imaginou-se andando ao lado dele a conversar, estavam tranquilos, estavam contentes...
Uma luz tão forte, o soco de uma mão gigante, um gosto de sangue... o escuro, o corpo queimando no asfalto... o carro parou.
Ela o tinha diante de si: o cordão no pescoço, os lábios como em uma tela, os olhos que guardam segredos que nem nesse momento se deixavam revelar... Ela finalmente deixou correr as lágrimas dos olhos, seus lábios sorriam... e adormeceu no asfalto banhado de sangue.
Logo a multidão invadiu o local, ouviam-se sirenes e vozes.
E ele naquele dia, nem sequer passou naquela rua. Naquele dia nem sequer pensou nela. Mas sua ausência, coisa que ela sempre teve certeza que assim como sua presença nem seria notada nesse mundo, todos que a conheciam, inclusive ele. Atribuem a um acidente de trânsito, estúpido e cotidiano.
Estela de Menezes. Outubro de 2011.
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