domingo, 24 de junho de 2012

Rosa

Rosa vivia plantada, apoiada no muro, bem perto do portão da frente da casa de dona Sofia. Liliana, a menininha da casa, brincava, corria, vivia como todas as outras meninas da rua e do bairro. Também como todas as outras meninas, na idade de ir à escola, Liliana ia à escola, estudava, não estudava, sorria, chorava, teve amores, namorados, fez viagens, foi a festas.
Rosa, a que quase ninguém via, vivia plantada, apoiada no muro de dona Sofia. Liliana, assim como tantas meninas, casou, teve filhos, continuou indo a festas, viajando, sorrindo, chorando. Outras meninas fizeram carreira, ficaram famosas, morreram de câncer... Rosa vivia plantada ao lado do portão apoiada no muro.
Tantas meninas nasceram, cresceram e tantas vezes na vida viveram e morreram!
Rosa vivia plantada, perto do portão,  apoiada no muro da frente da casa de dona Sofia, uma rosa que quase ninguém via, que com o tempo recebeu suas manchas, teve sua maciez comprometida, murchou, sem nunca perder seu perfume que tornava tão mais leve o ambiente e que agradava a tanta gente que nem percebia de onde vinha toda aquela suavidade que pairava no ar, era uma rosa que quase ninguém via. Um dia despetalou-se como uma nuvem cinza  chorando gotas de arco-íris, enfeitou a terra onde viveu plantada, tombou já sem vida em uma queda que ninguém viu, nem ouviu, ou viu e ouviu, mas não achou valor em comentar.
Rosa foi varrida de onde passou sua vida e depositada em meio a tantas outras rosas e não rosas que vivem ou não, mas morrem, como todos sempre morrem, são varridos e geralmente em algum lugar depositados, e como a grande maioria dos seres que vivem (ou não) e morrem, rosa sumiu da história do mundo como se nunca tivesse passado por lá.


Estela de Menezes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário